segunda-feira, 6 de maio de 2013

Conhecereis a verdade e ela vos libertará (João 8:32)



Por Fernando Lobato_Historiador

Não existe verdade absoluta sem os atributos do inegável, do inquestionável e do imutável. A verdade absoluta é inegável porque não pode ser contradita ou negada. É inquestionável porque é clara e perfeitamente inteligível a ponto de não deixar dúvidas ou interrogações pertinentes e é imutável porque não envelhece ou se fragiliza com o passar do tempo.  A verdade absoluta é sempre passível de ser expressa em qualquer linguagem ou forma de conhecimento: religioso, filosófico ou científico. E a primeira grande verdade que conhecemos diz respeito ao fato de que todos, sem exceção, chegamos a este mundo como resultado da ação de outros que nos precederam. E ao pensarmos na realidade de nosso universo ficamos diante de outra verdade ligada à primeira: o nada não gera absolutamente nada e, sendo este universo real, somente pode ter sido fruto de algo que existe e existiu anteriormente ao mesmo, de modo que, seja no campo da Religião, da Filosofia ou da Ciência podemos definir essa existência com o nome de Deus ou com outro que nos proporcione maior proximidade e conforto diante dessa existência.
Não é por acaso que todos os povos primitivos produziram mitos narrativos procurando dar conta, dentro das limitações de seu saber e percepção, dos processos que fizeram a ordem universal surgir do caos que a antecedeu. Estas narrativas, também não por acaso, serviram como os “gênesis” de um sem número de religiões e crenças que nasceram com o fim de estabelecer uma lógica para as relações do natural ou humano com aquilo que entendiam como divino ou sobrenatural. Também não foi por acaso que a Filosofia nasceu do mesmo tipo de reflexão, ou seja, da divagação sobre como o complexo deriva do simples ou primitivo, ou seja, de como a substância primordial deu origem às substâncias derivadas que formaram o universo. Não é por acaso também que a Ciência, quando descobriu a realidade do mundo atômico, se deu conta de que há uma lógica que a sua lógica limitada, racional e quantitativa jamais compreenderá de forma plena e absoluta e que, cada vez mais, demonstra a existência de uma emoção, inteligência e vontade dirigindo tudo o que existe.
O homem é parte da criação e, portanto, não criou a si mesmo e, diferente do que afirmou o filósofo Ludwig Feurbarch[1], é diminuto demais para o imaginarmos como o criador do próprio Deus. Feurbach, todavia, estava correto quando visualizava um nexo antropológico[2] entre Deus e o homem ou entre o homem e a religião, fato que a própria Bíblia indica quando diz que o homem foi feito à imagem e semelhança do criador. Feurbach tem certa razão quando diz que as limitações e impotências humanas tem o poder de criar Deuses particulares ou pessoais de acordo com a conveniência e o interesse de cada um, fato muito comum nos dias atuais. Não devemos, todavia, apesar disso, negarmos a importância do conhecimento religioso, fato que o próprio Feurbach também destaca em seu texto[3]. É certo que grande parte do mundo religioso transformou Deus num ser que existe meramente para se cultuar e pedir socorro, mas isso não significa que, ontologicamente[4], seja ele exclusivamente isso.
É a pequenez ou falta de conhecimento do homem acerca da verdade absoluta e de tudo aquilo que a cerca e com ela mantém um relacionamento eterno que o faz um escravo ou servo da própria ignorância. Se conhecêssemos a verdade absoluta, conforme disse Jesus, seriamos não apenas livres, mas, sobretudo, poderíamos afirmar a nossa condição de filhos da verdade ou encarnações humanas da própria verdade. Eis porque, diante da iminência da cruz, Jesus disse que o templo seria destruído e erguido em apenas três dias. Falava do templo de seu corpo. O Templo que o apóstolo Paulo menciona como lugar reservado para a morada de Deus.  Eis o desafio posto a cada um de nós.




[1] Ludwig Feurbach – filósofo alemão autor, entre outros livros, de “A Essência do Cristianismo”.
[2] Antropologia – Ciência que tem como foco a natureza humana
[4] Ontologia – “é a parte da metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos entes” – Fonte Wikipédia.

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