Por Fernando Lobato_Historiador
Não existe
verdade absoluta sem os atributos do inegável, do inquestionável e do imutável.
A verdade absoluta é inegável porque não pode ser contradita ou negada. É
inquestionável porque é clara e perfeitamente inteligível a ponto de não deixar
dúvidas ou interrogações pertinentes e é imutável porque não envelhece ou se
fragiliza com o passar do tempo. A
verdade absoluta é sempre passível de ser expressa em qualquer linguagem ou
forma de conhecimento: religioso, filosófico ou científico. E a primeira grande
verdade que conhecemos diz respeito ao fato de que todos, sem exceção, chegamos
a este mundo como resultado da ação de outros que nos precederam. E ao
pensarmos na realidade de nosso universo ficamos diante de outra verdade ligada
à
primeira: o nada não gera absolutamente nada e, sendo este universo real, somente
pode ter sido fruto de algo que existe e existiu anteriormente ao mesmo, de
modo que, seja no campo da Religião, da Filosofia ou da Ciência podemos definir
essa existência com o nome de Deus ou com outro que nos proporcione maior
proximidade e conforto diante dessa existência.
Não é por
acaso que todos os povos primitivos produziram mitos narrativos procurando dar
conta, dentro das limitações de seu saber e percepção, dos processos que
fizeram a ordem universal surgir do caos que a antecedeu. Estas narrativas,
também não por acaso, serviram como os “gênesis” de um sem número de religiões
e crenças que nasceram com o fim de estabelecer uma lógica para as relações do
natural ou humano com aquilo que entendiam como divino ou sobrenatural. Também
não foi por acaso que a Filosofia nasceu do mesmo tipo de reflexão, ou seja, da
divagação sobre como o complexo deriva do simples ou primitivo, ou seja, de
como a substância primordial deu origem às substâncias derivadas que formaram o
universo. Não é por acaso também que a Ciência, quando descobriu a realidade do
mundo atômico, se deu conta de que há uma lógica que a sua lógica limitada,
racional e quantitativa jamais compreenderá de forma plena e absoluta e que,
cada vez mais, demonstra a existência de uma emoção, inteligência e vontade
dirigindo tudo o que existe.
O homem é
parte da criação e, portanto, não criou a si mesmo e, diferente do que afirmou
o filósofo Ludwig Feurbarch[1],
é diminuto demais para o imaginarmos como o criador do próprio Deus. Feurbach,
todavia, estava correto quando visualizava um nexo antropológico[2]
entre Deus e o homem ou entre o homem e a religião, fato que a própria Bíblia
indica quando diz que o homem foi feito à imagem e semelhança do criador. Feurbach tem certa razão quando diz que as limitações e impotências humanas tem
o poder de criar Deuses particulares ou pessoais de acordo com a conveniência e
o interesse de cada um, fato muito comum nos dias atuais. Não devemos,
todavia, apesar disso, negarmos a importância do conhecimento religioso, fato
que o próprio Feurbach também destaca em seu texto[3].
É certo que grande parte do mundo religioso transformou Deus num ser que existe
meramente para se cultuar e pedir socorro, mas isso não significa que,
ontologicamente[4],
seja ele exclusivamente isso.
É a pequenez
ou falta de conhecimento do homem acerca da verdade absoluta e de tudo aquilo
que a cerca e com ela mantém um relacionamento eterno que o faz um escravo ou
servo da própria ignorância. Se conhecêssemos a verdade absoluta, conforme
disse Jesus, seriamos não apenas livres, mas, sobretudo, poderíamos afirmar a
nossa condição de filhos da verdade ou encarnações humanas da própria verdade.
Eis porque, diante da iminência da cruz, Jesus disse que o templo seria destruído
e erguido em apenas três dias. Falava do templo de seu corpo. O Templo que o
apóstolo Paulo menciona como lugar reservado para a morada de Deus. Eis o desafio posto a cada um de nós.
[1]
Ludwig Feurbach – filósofo alemão autor, entre outros livros, de “A Essência do
Cristianismo”.
[2] Antropologia
– Ciência que tem como foco a natureza humana
[3]
Destaco aqui o texto análise de José Ricardo Martins in http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/a-religiao-sob-um-outro-olhar-ludwig-feuerbach-e-a-essencia-do-cristianismo/24426/
[4]
Ontologia – “é a parte da metafísica que trata da natureza,
realidade e existência dos entes” – Fonte Wikipédia.
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